Eterno retorno

- Você não está se aguentando, né?
- É, acho que não.
- E quer voltar já?
- Eu queria ficar um longo tempo fora da net e, na volta, recomeçar diferente. Queria um blogue mais neutro que vermelho. Mais sério que exibicionista. Mais chato que divertido. Mais Euza que loba.
- Mãe, sua louca! Você prometeu que desta vez ficaria no mínimo uns seis meses sem um blog! Não tem mais tempo, nem mais saco, nem nãoseimaisoquê, esqueceu?
- Ah, mas sabe de uma coisa? Tou descobrindo que, apesar de todas as minhas atuais dificuldades, é melhor estar meio dentro do que inteiramente fora. É melhor ser pálida do que não ter cor. É melhor chorar do que nada sentir. É melhor balançar do que paralisar.
- Tá, mas e a história de matar a loba?
- Ah, isso continua valendo, filha. Eu, loba, me envolvi demais. Virei quase um polvo lançando tentáculos para todos os lados. E não consigo mais administrar tantas e tão diferentes relações e responsabilidades.
- Que responsabilidade? Sua única responsabilidade era manter o blog. Ou não?
- Filha, pensa numa família que crescia cada dia um pouco mais. Eu era meio mãe, meio irmã, meio amante nesta família. E como disse Exupéry, a gente se torna responsável pelos afetos que conquista. Você me conhece, sabe que afeto pra mim é sagrado, né? Me incomoda muito não poder dar a atenção que cada amigo merece.
- Mãe, a loba não foi uma invenção. Você sabe que foi apenas um apelido. Mas vamos fingir que é possível não ser ela. O que você pretende fazer, me diz. Exatamente!
- Não sei exatamente. A única coisa da qual tenho certeza é que a necessidade de escrever é maior que eu. E agora, apenas escrever já não me satisfaz. Preciso ser lida, ainda que seja por um único leitor. E também tenho outros projetos, sabe? Quero, ainda este ano, juntar um povo pra fazer outro livro de blogueiros. Ainda não sei direito o que quero, sei que quero.
- Faz logo este blog então, mamy. E deixa rolar.
- É o que tou ensaiando, meu bem. Vou recomeçando. Devagar, sem nenhuma outra pretensão senão a de ter onde publicar o que fica incomodando e pedindo pra sair. Tou pensando em um espaço bem aconchegante, bem leve, bem light. Menos agressivo, tanto na cor quanto nas intenções, tendeu? Mas tenho que reconhecer: não consigo ser muito diferente do que sempre fui. Acho que a minha mudança está sendo mais em relação à minha auto-imagem. Ao meu ego, pra ser mais exata.
- Ego? O que tem seu ego?
- Todos estes anos na net me deixaram meio sem chão. Voei tanto que perdi a noção do meu próprio tamanho, do meu próprio peso, saca? Tou sentindo necessidade de me reinventar e isso só é possível partindo do zero. E tem também o meu lado predador. Este eu preciso domar – até porque ele exige muitos investimentos, inclusive de tempo que não tenho mais. Mas de resto, não vou conseguir fugir muito do que sempre fui, né?
- Ainda acho que você deveria esperar mais. Se não consegue, vai fundo. Mas com menos fome e respeitando mais o tempo, please! Pra não ficar estressadinha.
- É. Menos tempo e menos fome. Pensando bem, acho que isso me faz um tanto mais chata. Mas fazer o quê, né?

***
Bom, cá estou. E convido a todos para um cafezinho bem à mineira, com pão de queijo quentinho ou um delicioso fondue de queijo minas. E, é claro, um dedo de prosa, algum verso e a bobagem que pintar.
Sintam-se em casa!
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O café

Aqui se faz prosa, verso e a bobagem que pintar, em qualquer tempo e qualquer lugar - na página principal e nos comentários. Tudo com a marca registrada de mineira desvairada. Aqui, realidade e ficção são vice-e-versa. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos conhecidos pode não ser mera coincidência. Ou pode ser uma grande fantasia.

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector