Prosa e verso

vertigem

quando seus passos
descompassam
minha lucidez

o coração
dá nó
nas antigas certezas
os pés
validam
a beira do abismo

viro caos

e submerjo
na falta de gravidade
do meu querer-despencar

(Tenho mania de roubar a inspiração alheia. Às vezes isso me incomoda. Quase sempre me lembro de Lavoisier e toco em frente. O poema acima é exemplo disso. Ousadamente, misturei o que li em Dora Vilela e Edílson Pantoja e deu nisso. Trouxe deles a inspiração sem, no entanto, conseguir a competência. Mas sou eterna aprendiz. Um dia quem sabe aprendo. Ou recolho a minha ousadia.)

***

Rafa
(um raro final feliz)

Tentou me assaltar duas vezes, no mesmo cruzamento. Na primeira vez, seus dedos ficaram presos no vidro que fechei numa reação imediata de sobrevivência. Na segunda, me reconheceu. Virei tia e o assalto virou pedido de comida. Entre o medo e o desafio, levei-o a uma lanchonete. Escolheu o maior sanduíche e o devorou como um bichinho faminto. Só então percebi o brilho em seus olhos: medo. Não de mim. Do mundo. Atacava para não ser atacado. Durante duas semanas, almoçou comigo. Nenhum de nós se importou com os olhares à nossa volta. Um dia não apareceu. Voltou tempos depois com uma cicatriz no lado do rosto. De olhos baixos, esperou que eu o repreendesse. Dei-lhe comida. E o levei para a nossa associação.
Hoje ele faz aniversário. Vinte e um anos. Faz estágio na área de química industrial e no final do ano fará vestibular. Tem uma família resgatada, uma namorada, uma bicicleta e todos os sonhos do mundo.

***

Buquê de beijos e meu desejo de ótimos dias.

O café

Aqui se faz prosa, verso e a bobagem que pintar, em qualquer tempo e qualquer lugar - na página principal e nos comentários. Tudo com a marca registrada de mineira desvairada. Aqui, realidade e ficção são vice-e-versa. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos conhecidos pode não ser mera coincidência. Ou pode ser uma grande fantasia.

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector