Reencarnação


Entre um sono e outro, liguei a televisão. Passava um filme sobre reencarnação – um assunto que vez ou outra cai sobre mim, como se em meu passado longínquo existisse algo querendo se revelar. Como sou mais ligadona em presente, mudei de canal. Mas a reencarnação me perseguiu e buscou lá no fundo da memória o que um amigo místico me disse: tu já foi uma prostituta do império austríaco. Nunca quis acreditar nisso. Não por ter sido prostituta, mas ele tinha que me colocar num império? Ainda me soa como charlatanismo dos mais baratos. Minha memória o perdoa, porque amigo tem destas coisas de dourar a pílula.
Mas o papo é outro. É que ao desligar a televisão e buscar aquela posição que me levaria ao reino de Morfeu, o travesseiro me consolou: seja o que for que você tenha sido, não foi brasileira! Tomei um baita susto. Como assim não fui brasileira? O que meu inconsciente queria dizer com isso? Acabou o orgulho de ter a alma verde-amarela?
Larguei de mão estes pensamentos que ameaçavam trazer de volta a avalanche de crimes, injustiças e corrupções. Mergulhei minha mente na contagem de carneirinhos. É sempre infalível, embora eu nunca veja os tais carneirinhos. Desta vez, nem imaginando um rebanho australiano consegui desviar os pensamentos.
Acordei com as notas da Marselhesa dançando na cabeça. Nunca me lembro de sonhos, mas sempre ficam as impressões. Coisa da minha louca vontade de conhecer Paris, com certeza. O dia me chamava e a impressão do sonho sumiu. Mas ficou o som do travesseiro me consolando, como a me fazer promessas cheirando a perfume francês. Seria esta a felicidade que fazia o dia ficar mais novo?
Cheia de energia, tomei meu banho e me sentei à mesa do café. Com os jornais, claro. Estranhamente meus dedos ganharam autonomia e buscaram o horóscopo do dia: cuidado com o que diz, hoje você precisa pensar mais do que falar. Grande merda! Às oito e meia eu teria uma reunião onde minhas palavras seriam cruciais e definidoras. E nada simpáticas.
Descobri que a página de horóscopo era uma fuga. E enquanto eu brigava com meu lado covarde, as horas passaram, fechei o jornal e saí atropelando o tempo. Se nesta reencarnação minha sina foi nascer brasileira, então era hora de ir à luta. E matar o leão de cada dia. (Embora a vontade seja matar sarneis e rebanho ltda)

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No poema do post passado fiz uma crítica a quem vive de saudosismo. Mas que fique claro: a quem não sabe usar o saudosismo para alavancar ações no presente. Sou saudosista e adoro Maiakovski. Mas vou um pouco além. Sou cidadã do meu tempo.

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Beijo, pessoas!



Imagem que "catei" lá no blog do Prof. Marcelo - Resumo da chuva. Capa do Jornal carioca EXTRA:

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector