Reconstrução

Algumas dores são sempre desestruturantes. Perder um ente querido é uma delas. Não apenas pela perda em si, sobretudo pelas outras perdas que vêm com ela. Perda de certezas, perda de ilusões, perda de nós mesmos.
Nunca estamos preparados para perder. Este é um verbo que não conjugamos – talvez por medo de encará-lo de frente. E por não estarmos preparados, mesmo as perdas anunciadas criam um abismo em nós. Perdemos o chão. E nos sentimos em queda livre. O mundo parece girar em sentido contrário. As vontades viram pássaros nórdicos - mudas. Viramos sobreviventes dos minutos. Cada um deles nos parece tão imenso que a eternidade se faz presente. Uma eternidade nebulosa. Difícil de ser rompida.
Enquanto isso, a vida nos cobra atitudes. São outras pessoas que dependem da nossa força, é o trabalho que nos olha com cara feia, é a poesia que tumultua nossa alma. Olhamos para tudo isso como se estivéssemos prestes a ser massacrados. Não há força para o primeiro passo. Mas é preciso haver. E fingimos ter o que há muito perdemos.
Este esforço quase sobre-humano não nos ajuda. Parece que só nos debilita – nós que um dia nos sentimos super-homens. E vamos nos arrastando, como se viver fosse carregar o mundo num universo de dores e alguns rancores. Até que os pés cobram o chão. E acordamos. E descobrimos a necessidade de reconstruir nossa história. Sem o ente querido. Sem as fantasias de eternidade que embalamos. Sem a ilusão de paz e amor e amizade que imaginamos. Sem o dó de nós mesmos. Passo a passo vamos de encontro à vida - porque ela, a vida, não acolhe derrotados. Vamos com uma nova força. A força da sobrevivência. Se não por nós, por quem nos ama, por quem amamos.
Assim, caminhamos. Assim devemos caminhar.


***

Beijo, pessoal!

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Aqui se faz prosa, verso e a bobagem que pintar, em qualquer tempo e qualquer lugar - na página principal e nos comentários. Tudo com a marca registrada de mineira desvairada. Aqui, realidade e ficção são vice-e-versa. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos conhecidos pode não ser mera coincidência. Ou pode ser uma grande fantasia.

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector