ondas

Olhava atenciosamente os paralelepípedos como se deles viesse o risco. Há dias eu me sentia incomodada. Toda minha vida estava em rodopios e eu não sabia se conseguiria centrar o eixo. Tinha um caminho a seguir, mas meus pés pareciam não reconhecê-lo.
- Porra, quanto tempo mulher!
O rosto era um sorriso só. O olhar, prazer. Olhei-me naquele olhar e meu corpo se encheu de chamas conhecidas.
- Não acredito! Menino, que prazer te encontrar.
- Estamos aqui outra vez, mais um carnaval. O bloco está na rua. Na verdade, estou voltando pra redação. Tinha uma entrevista marcada, mas o cara furou na última hora. Mas e tu, o que fazes aqui?
- Indo praquela livraria ali. Vamos tomar um café?
- Dá pra ser algo mais condizente com a minha condição de macho canalha? Ou você se esqueceu que me elegeu seu cafa de estimação? Que tal uma dose do néctar feito à base de malte escocês?
Sorri, encantada com a constatação: ele continuava o mesmo. Certos homens não conseguem ultrapassar o estágio da adolescência. Alguns perdem o tino. Este, consegue equilibrar-se na linha fina entre o ridículo e charme. Que fofo!
- Velhos tempos, velhos tempos. Hoje tou noutra. Ou melhor, sou outra. A vida me deu nova chance. Talvez para que eu recomece de forma diferente.
- Tou sabendo, mas não acredito. Saiu a Deusa Pagã e entrou a Madre Superiora. Radical demais, não achas?
- rs... nada disso. Mudei, sem dúvida. Sinto que atravessei uma fronteira. Ainda não sei definir onde estou, mas a minha essência continua a mesma.
- E a Deusa Loba, se foi para sempre?
- A Loba era puro erotismo, né? Acho que isso acabou. Nem literariamente a Loba existe. Aliás, não sei se ainda existo na escrita, já que quase tudo que escrevi tem como base o erotismo. Talvez eu precise me reinventar.
- Tá brincando! Fico puto - putíssimo - da cara com este teu pundonor literário. Você não é apenas isto. A Loba não pode morrer. Ela é parte fundamental da tua personalidade. Aliás, precisamos conversar com mais tempo sobre esta obstinação em negar a sexualidade. Que saco, pô!
- Claro. Qualquer dia deste a gente conversa.
- "Ah, acho que estás te fazendo de tonta. Te dei meus olhos pra tomares conta e agora não sei pra onde ir".
- rs... tá querendo que eu me sinta culpada? Tou me fazendo de tonta sim. Não sei se quero este papo. O que sei é que, no momento, só quero me preparar para a volta do Palimpnoia. Tá sabendo?
- Claro, já me falaram da boa nova. Mas tu vais mesmo voltar a escrever?
- Com certeza. Mudei, cara, de verdade. Mas escrever ainda é a minha centralidade.
- Então que este recomeço se faça. Mas que não te esqueças que temos um papo pendurado. Feito?
- Combinado.
- Vou cobrar. Agora me conta do Palimpnoia.
- Então, o grupo resolveu voltar a escrever. Escrever, simplesmente. Sem qualquer outra intenção senão a de curtir as letras e interagir com o leitor.
- Hum... as deusas estarão todas presentes?
- rs... claro! Aline Belle, Shirley P. e esta que vos fala. Mas também os nossos fiéis guardiões: Zequinha e Jens. O Palimpnóia completo!
- E quando será isso?
- Na primeira segunda feira de maio, dia 03. A cada segunda, um de nós postará um texto novo. Te vejo por lá, né?
- Sem dúvida. Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você...

E o papo foi esticando pra outras bandas, nem todas publicáveis. Mas o que interessa é que, apesar deste Café continuar em stand by, estou voltando. Eu, o Palimpnoia e meus companheiros palimpnóicos. A partir de 03/05, esperamos vocês aqui: PALIMPNÓIA
* ondas feitas a quatro mãos

O café

Aqui se faz prosa, verso e a bobagem que pintar, em qualquer tempo e qualquer lugar - na página principal e nos comentários. Tudo com a marca registrada de mineira desvairada. Aqui, realidade e ficção são vice-e-versa. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos conhecidos pode não ser mera coincidência. Ou pode ser uma grande fantasia.

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector