Suas mãos cortavam o ar com ferocidade. Acabara de sair de uma delegacia onde o filho estava sendo acusado de assalto à mão armada. O filho que ele ainda via como criança, a quem dava as melhores roupas, a melhor escola. Os olhos marejavam uma mistura de tristeza e raiva. Ao terminar, o olhar pousou no chão. Como se sentisse vergonha do sofrer. E era vergonha. Todos ali se envergonhavam do que viviam. Ter um filho drogadito era como um atestado de incompetência pregado na parede da sala.
A história corria entre eles como faca ameaçando peitos e almas. Era a primeira do dia. A primeira sempre os pegava desprevenidos – como se a maioria ali não vivesse suas histórias elípticas.
A segunda história não foi melhor. Mas já não os abateu. Ao contrário, começou a provocar o mexer nas cadeiras. Ter uma faca colocada no pescoço, pelas mãos de uma filha, é como cair no mais profundo do poço. A mãe não soube o que fazer além de sentir o suor do medo descendo-lhe pelo rosto. Desconhecia a garota de 15 anos tanto quanto conhecia a faca tirada da gaveta da cozinha. A faca ela sabia ser afiada. A filha já não tinha limites previsíveis. Deu-lhe o que pedia e ficou dois dias esperando qualquer notícia – a melhor ou a pior.
De histórias em histórias chegaram à coordenadora. Ela tinha a garganta travada. Tanta miséria humana às vezes a paralisava. Mas era preciso começar a dinâmica. E dar àquelas famílias algo que estivesse além da desesperança.
São assim as reuniões de grupo familiar da associação que cuida de menores usuários de drogas e suas famílias. Ouvir as famílias, entender seus dramas e buscar orientá-las é essencial para que possam trabalhar com os pequenos e reinseri-los na sociedade. Não importa saber de culpas, mas de responsabilidades. São famílias de classes sociais variadas. As drogas deixaram de ser fuga da fome. Passaram a ser o paliativo para desajustes familiares e sociais de todas as classes.
Esta associação é apenas um ponto que brilha no imenso universo de carências sociais do país. Outros pontos já existem e juntos fazem um elo de esperança. Cobrar do Estado é uma obrigação do cidadão, mas esperar de braços cruzados é uma forma de omissão. É sempre possível fazer algo – mesmo que indiretamente – a favor da Vida. Nem que seja pensando na própria integridade. Na própria vida.
***
Sou uma mãezona assumidíssima. Basta um filho dar um grito e já estou eu ao seu lado. Se o grito vem de um bebezuco lindo, minha pressa é multiplicada por dois. Por isso andei sumida. A Cris e seu bebezinho me chamaram. Virei duas, mas não sobrou tempo pro mundo dos blogs - apesar da saudade que senti.
Enfim, estou de volta, ainda que devagar. E desejo a todos uma ótima semana!
A história corria entre eles como faca ameaçando peitos e almas. Era a primeira do dia. A primeira sempre os pegava desprevenidos – como se a maioria ali não vivesse suas histórias elípticas.
A segunda história não foi melhor. Mas já não os abateu. Ao contrário, começou a provocar o mexer nas cadeiras. Ter uma faca colocada no pescoço, pelas mãos de uma filha, é como cair no mais profundo do poço. A mãe não soube o que fazer além de sentir o suor do medo descendo-lhe pelo rosto. Desconhecia a garota de 15 anos tanto quanto conhecia a faca tirada da gaveta da cozinha. A faca ela sabia ser afiada. A filha já não tinha limites previsíveis. Deu-lhe o que pedia e ficou dois dias esperando qualquer notícia – a melhor ou a pior.
De histórias em histórias chegaram à coordenadora. Ela tinha a garganta travada. Tanta miséria humana às vezes a paralisava. Mas era preciso começar a dinâmica. E dar àquelas famílias algo que estivesse além da desesperança.
São assim as reuniões de grupo familiar da associação que cuida de menores usuários de drogas e suas famílias. Ouvir as famílias, entender seus dramas e buscar orientá-las é essencial para que possam trabalhar com os pequenos e reinseri-los na sociedade. Não importa saber de culpas, mas de responsabilidades. São famílias de classes sociais variadas. As drogas deixaram de ser fuga da fome. Passaram a ser o paliativo para desajustes familiares e sociais de todas as classes.
Esta associação é apenas um ponto que brilha no imenso universo de carências sociais do país. Outros pontos já existem e juntos fazem um elo de esperança. Cobrar do Estado é uma obrigação do cidadão, mas esperar de braços cruzados é uma forma de omissão. É sempre possível fazer algo – mesmo que indiretamente – a favor da Vida. Nem que seja pensando na própria integridade. Na própria vida.
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Sou uma mãezona assumidíssima. Basta um filho dar um grito e já estou eu ao seu lado. Se o grito vem de um bebezuco lindo, minha pressa é multiplicada por dois. Por isso andei sumida. A Cris e seu bebezinho me chamaram. Virei duas, mas não sobrou tempo pro mundo dos blogs - apesar da saudade que senti.
Enfim, estou de volta, ainda que devagar. E desejo a todos uma ótima semana!
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