Sentires

Um dia ele chegou com um peixe nas mãos. E se ofereceu pra descamá-lo e levá-lo à mesa. Me perdi ali, contemplando mãos enormes deitando delicadezas na carne branca. Mãos muito mais ágeis que as minhas. No rosto, um sorriso de felicidade insuposta. Preparar o alimento, servi-lo, sentar-se junto para comê-lo teve um quê de orgasmo. Como se parte da vida estivesse fluindo ali. E fosse levada pra cama com a satisfação garantida.

***

Da despedida escorriam sentimentos insuspeitos. Olhávamos um ao outro. Parecia que olhar não bastava. Era um contemplar contínuo, como se piscar fosse perder a vida. A vida daquele instante. Não havia dor. Havia a evaporação do coração.

***

Mal entrei, vi a menina. Únicos olhos fora dos óculos escuros. Olhar perdido no fundo do salão. Sem ver ninguém. Talvez nem à sua dor. Perder mãe é uma ficha que demora a cair. Perder mãe é um desvio de rota quase fatal. É injusto que num coração pequeno tenha que caber tanta falta. Mas ela, como eu, seguiria seu caminho. E aprenderia que amor não é dado de graça. Só amor de mãe.



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Permanecem os convites do post passado. E meu entusiasmo com o primeiro filho de papel!

Super beijos.

O café

Aqui se faz prosa, verso e a bobagem que pintar, em qualquer tempo e qualquer lugar - na página principal e nos comentários. Tudo com a marca registrada de mineira desvairada. Aqui, realidade e ficção são vice-e-versa. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos conhecidos pode não ser mera coincidência. Ou pode ser uma grande fantasia.

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"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo." Clarice Lispector